O Relacionamento Trinitário transborda para as criaturas. Da mesma forma que as três Pessoas da Santíssima Trindade vivem um relacionamento íntimo, um diálogo de amor entre si, elas desejam viver esse diálogo com cada um de nós. O Filho que se inclina para o Pai e "permanece" um no outro (Jo 1,18). O Filho e o Espírito Santo que juntos se voltam para o Pai; Ambos enviados para uma missão, pelo Pai. Sua ação é tão unida que quase se confunde um com o outro (Rm 8,2.9-10). Tanto Jesus quanto o Espírito Santo vivem e agem em nós. Esta união dos dois se abre para a fonte comum, para o Pai (Rm 8,11; Jo 14,26). O Pai e o Espírito Santo estão unidos no amor a Cristo. A vinda de Jesus ao mundo é obra do Pai e do Espírito Santo (Lc 1,35). São os dois que orientam a caminhada de Jesus. É o Filho de Deus porque se deixa conduzir pelo Espírito Santo (Rm 8,14).
A Trindade totalmente feliz e perfeita em si mesma, não fecha dentro de si sua vida, seu bem, sua felicidade, mas quer compartilhar seus bens próprios com as suas criaturas. A Trindade deseja iniciar um diálogo com o homem. Não apenas a divindade única, mas cada uma das três Pessoas deseja ter uma relação especial com ele, levando-o a encontrar e firmar sua identidade. Deus chama à existência inúmeros seres para comunicar-lhes a bondade e a felicidade em diferentes graus e modos. Não por necessitar das criaturas, por que elas nada podem acrescentar à Sua glória e felicidade (Eclo 42 21). Não por haver nelas algum bem ou amabilidade, mas para fazê-las participantes de Seu bem. Por mais que Deus se doe às inúmeras criaturas, jamais Se esgotará, e tudo que Ele toca se transforma em bem.
Nós e o Pai
Temos uma relação especial com o Pai. Somos considerados por Ele, Seus filhos. É Cristo que nos leva a Ele: "Ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14,6). É vivendo e amando no Cristo que vivemos e amamos no Pai (Jo 16,27; Jo 14,21). Em Cristo, o Pai deseja ter essa vida de união com cada um dos seus filhos. Deseja participar e interferir na história de cada um de nós. A vida de cada homem tem muito valor para o Pai e Ele deseja cuidar dela, para isso necessita viver conosco um relacionamento íntimo e concretiza isto fazendo morada no nosso coração(Jo 14,23). Morar um no outro é a intimidade da convivência. Deus deseja conviver conosco, partilhar vidas. E este nosso relacionamento com o Pai é participado com o Filho e o Espírito Santo. Cada pequeno detalhe de nossas vidas não passa despercebido diante Dele, porque Ele nos ama.
Nós e o Filho
Jesus assim roga ao Pai: "Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: Eu neles e Tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade, e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim" (Jo 17,22s). A profunda e misteriosa união entre as três Pessoas divinas, Jesus quer vê-la prolongada em nossos corações. Nós somos para Jesus seus "irmãos" (Lc 12,4; Jo 15,15). Ele é o nosso eterno intercessor diante do Pai. Nós somos tão importantes para Ele, no Pai, que Ele deu Sua vida por cada um de nós, e destruiu o muro de inimizade entre nós e os Três. Ele nos revela o Pai e o Espírito (Jo 15,9s). São Paulo chegou a viver esta intimidade total e radical da Trindade e com a Trindade, através de Cristo: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim"(Gal 2,19s). O Pai e o Espírito Santo se alegram e nos impulsionam a intensificar nossa relação íntima com Cristo, pois assim intensificam nossa relação íntima com Eles.
Nós e o Espírito Santo
E como não poderia deixar de ser, nós temos também uma relação especial com o Espírito Santo. A relação do Filho com o Pai, quem nos introduz nela é o Espírito Santo: "O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse" (Jo 14,26). O Espírito Santo nos fará "conhecer", isto é, vivenciar o mistério divino. Nós somos templos do Espírito Santo e por habitar dentro de nós, por viver conosco na intimidade, nós podemos conhecê-lo e Ele pode nos ensinar profundamente (Rm 8,16). É necessário que como Jesus, nos deixemos conduzir pelo Espírito Santo para nos tornarmos filhos de Deus (Rm 8,14-16) e podermos ter essa relação íntima, filial, porque o Espírito Santo foi derramado nos nossos corações (Gal 4,6). É Ele quem nos santifica, quem nos ensina a rezar, a falar com o Pai, pelo Filho. É Ele quem socorre a nossa fraqueza e ao dialogarmos com Ele, o nosso diálogo está aberto e transparente para o Pai e o Filho.
Na Trindade encontramos nossa identidade
Esta vida de união com cada uma das Pessoas da Santíssima Trindade é a nossa realização mais profunda: "a gloriosa liberdade dos filhos de Deus"(Rm 8,21). A morada da Santíssima Trindade em nossos corações, a "permanência" com a Santíssima Trindade tem o objetivo de nos santificar e nos transformar sempre mais na imagem do Filho de Deus (Rm 8,29). Este relacionamento íntimo entre cada Pessoa da Trindade e o homem o levará a viver "pela Trindade", isto é, viver pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito, transformando-o cada vez mais semelhante ao Filho, que serve e ama o Pai no Espírito Santo. Precisamos crescer cada vez mais nesta vida de união com eles. É isto que Deus nos chama a viver.
Tome Col 3,1-3: Nossa identidade, nossa origem e nosso fim último é Deus. Numa imagem bem simples: nós só conhecemos nosso rosto quando temos um espelho. Caso não tenhamos, nunca de fato saberemos como e quem nós somos e viveremos às custas daquilo que dizem de nós ou de como os outros nos vêem. Da mesma forma nossa verdadeira identidade, imagem e rosto só podem ser vistos se temos Deus como espelho, pois Ele é o nosso criador e só Ele pode dar a vida, como já no-la deu. É na oração, na busca desse Tu que encontraremos o verdadeiro EU e teremos curadas as deformações que temos da nossa própria imagem. No seu amor Deus nos convida e chama a participarmos da mesma dinâmica que Ele tem dentro de si mesmo. Se o Pai só se reconhece como Pai no Filho, da mesma forma eu só serei verdadeiramente filho(a) de Deus, só serei pessoa íntegra, inteira e livre quando participar da vida trinitária desde agora neste mundo. Nós fomos feitos à imagem e semelhança de Deus e isso significa que nós temos com Ele a mesma relação de origem, ou seja, o amor. Cada um é único, especial e insubstituível, como nos asseguram as Escrituras (cf. Is, 43,1-5), e cada um é fruto dessa infinita e abundante criação que nunca se esgota e nunca se repete (eis aqui um argumento lógico, real e irrefutável contra a mentira da reencarnação).
A oração nos dá o verdadeiro sentido da individualidade e da autonomia que cada ser humano tem diante de Deus e diante de si mesmo. Olhando para o Pai, para Jesus e para o Espírito Santo como pessoas reais e vivas, veremos que nós também estamos nos tornando reais, pois a realidade não é Cristo?(cf. Col 2,17), no sentido pleno da palavra e portanto vivas. A oração voltada para a realidade da Trindade nos ensinará também a nos relacionarmos uns com os outros pois sendo Deus comunidade de amor, nos levará também a sê-lo. A oração verdadeira diante do Senhor nos arrancará das garras do nosso egocentrismo capaz de nos levar à morte, e nos assegurará o papel que temos a cumprir no Reino, dentro da soberana e perfeita vontade do Pai, sendo servos e transparentes uns com os outros.
Formação da Escola de Formação Shalom